Sempre tive fascinação pela lua. Poderia ser pelo sol, em sua intensa humildade, que de tão luminoso distribui essa luz para quem não a possui. Poderia, mas é a lua que me encanta. Talvez por ser mais próxima, mais impossivelmente palpável. Ganho noites olhando a lua. Digo ganho pois, para mim, passar horas absorta olhando-a não é nenhuma perda. No fundo acho que vejo na lua uma maneira de tornar a distância mais próxima. Devaneios sempre me perseguem, é a grande distração deles. Mas voltando ao inicio, a lua é uma distancia redutora. Desde pequena sempre a vi como uma dádiva Divina. Algo que é fidedigno seja embaixo dessa arvore ou do outro lado do mundo. Com o tempo percebi que não precisava ir tão longe pra permanecer com o mesmo pensamento. Talvez meu problema fosse pensar demais. Racionalizar demais. E me apegar a coisas simples demais. Era a lua. Redonda, luminosa. Mas a lua. E suas estrelas, que tornavam o céu suficientemente incrível para eu passar horas só de admiração. No meu intimo, sabia que não buscava ali a lua, em sua essência celestial. Era muito além, era infinitamente além. Ficava maravilhada com a perfeita imperfeição de seus traços. Como Deus é perfeito. A maior prova da perfeição Divina é essa, ver como perfeito algo imperfeito. Sentir completo algo incompleto. Deus nos preenche. E Ele sempre preencheu meus pensamentos, de formas inócuas, muitas vezes. Ela estava ali, brilhando, quase que me absorvendo. Me fazia viajar sem sair do lugar. Sugava-me sem fazer forças. Com o tempo percebi que ali não estava apenas a lua, nua, crua e linda. Estavam meus sonhos, meus tão almejados poderes. De ir além, de me desprender. Vendo-a ali, diante de mim, acompanhada de estrelas, iluminada pelo Sol, livre; podia me ver. Sendo iluminada pela luz de Deus, rodeada de amigos, família, e ali, viva. Pulsando. Algumas vezes com apenas uma parte de mim. Assim como a lua, em suas fases, muitas vezes mostra apenas uma face. Assim eu me via, me sentia. Algumas partes se foram com o tempo. Partes que jamais imaginei destituídas de mim. Como dói abrir mão de partes que antes víamos como nossa. Mas a lua me ensina, quando essas partes são suas, ainda que se vão, uma hora voltam. Algumas crateras foram imperativamente feitas e nunca preenchidas. Ficaram lá, vazias. Mas ainda assim, eu estaria ali. Brilhando. Viva. Porque, apesar de suas fases, de suas crateras e suas imperfeições, a lua continua brilhando. Continua viva. Em outros planetas, sua presença é indiferente. Mas Nesse planeta, Nesse tempo, Ela tem sua importância. E continua sendo essencial em um céu estrelado. Porque seu brilho não vem de outros planetas ou das estrelas que a acompanham. Vem do Sol que esta sempre disposto a ilumina-la.
- Uma autista.